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sábado, agosto 17, 2013

Colecção de documentos - 1807 IV


O ministro de Portugal em Londres participa para Lisboa que o «Moniteur» de 13 de Novembro de 1807 declara que a casa de Bragança deixou de governar em Portugal.


        Senhor!- Na intricada situação em que me puseram os despachos de 14, 15, 19, 25 e 27 de Outubro, e da qual só poderei sair quando receber a real resolução sobre o que tive a honra, e tomei a liberdade de escrever a vossa alteza real a 11 e 12 de Novembro, parecia-me o silencio a única e maior prova que podia dar do meu zelo e da minha obediência. Porém mr. Canning, insistindo comigo para que eu mande directamente a vossa alteza real as ultimas, noticias, que têm chegado de Espanha e França, com o motivo que a comunicação e a passagem dos correios para Portugal poderá estar interrompida; observo que no despacho de 25 de Outubro me recomenda o mesmo ex.º secretário de estado que eu «obre sempre de acordo com o ministério inglês em tudo quanto a ambas as cortes possa ser útil», e creio que é da minha obrigação conformar-me deste ministério. Se é possível que já aos magoados ouvidos de vossa alteza real não tenha chegado o fatal decreto de sua majestade católica, com data do palácio de S. Lourenço e de 30 de Outubro, incluso o achará vossa alteza real na gazeta inglesa, que junto a esta carta, (Esta gazeta não estava junta a este oficio, como se diz provavelmente pela terem desviado do mesmo oficio; mas o decreto em questão era aquele por que D. Carlos IV mandou prender seu filho, pelo querer destronar) e do qual me falta o animo para mandar a tradução. Este decreto chegou aqui ontem por navio vindo de Bilbau, e as cartas dali escritas a 6 do corrente, bem que cheias de terror, dão a certeza de que as tropas espanholas de toda aquela costa tinham recebido ordem de marchar contra Portugal, e que em seu lugar se esperavam as tropas francesas para ficarem em S. Sebastião, Bilbau, Santander, etc. As mesmas cartas referem que o príncipe da Paz nutre contra vossa alteza real e contra os seus estados aqueles horrorosos projectos e criminosas espectativas de que tive a honra e a infelicidade de dar parte a vossa alteza real na minha carta do ano passado. Com o parlamentário francês, de que dei parte no ofício nº 298, veio o «Moniteur» de 13 de Novembro, onde se acha um parágrafo, que apesar da sua autoridade, e por assim dizer exactamente em razão dela, exige mr. Canning, que eu mande a tradução a vossa alteza real, receando que já ai não chegue o «Moniteur» regularmente; vai junta a esta carta. Que a providência se digne abrir o tesouro das suas graças e luzes para as derramar sobre o trono de vossa alteza real, e que o nosso adorado soberano conheça o recurso único que lhe resta, que é o valor e a fidelidade dos seus vassalos, que para bem seu e deles nos sugere a conservação, ao menos da sua augusta pessoa e da real família; sã os únicos e ardentes votos de um vassalo, que seria o mais infeliz dos homens, se todas as suas diligencias, esforços e trabalhos assíduos para conseguir este inestimável fim, se tornassem inúteis!... Senhor: digne-se vossa alteza real ler com atenção e benignidade que o caracterizam, as cartas que tive a honra de lhe escrever a 23 de Outubro, e a 11 e 12 de Novembro, e persuadir-se que com tão profundo respeito como verdade, senhor, tenho a honra de ser – De vossa alteza real – O mais humilde e fiel vassalo. = D. Domingos Antonio de Sousa Coutinho. = Londres 25 de Novembro de 1807.

P.S.- 16 de Novembro. – Senhor. – Na mesma data desta chegou Manoel Vasconcelos com o despacho de 8 de Novembro, e notícias de Lisboa de 11, que causaram a demora desta carta até ao presente. A primeira via leva o «Moniteur» original, e a segunda a cópia. = D. S. (Domingos de Sousa)

N.B.- Já se vê que contando sobre a data do ‘post escriptum’ os dias de viagem de Inglaterra para Lisboa, este oficio quando a ela chegou, não podia ser recebido senão quando o príncipe regente e a sua real família contavam já um mês de viagem para o Brasil.




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