Pesquisar neste blogue

quarta-feira, agosto 14, 2013

Colecção de documentos - 1807 VII


Participação feita ao governo inglês por Sir Sidney Smith da resolução que tomara de bloquear o Tejo, em comprimento das suas instruções.



      Navio ‘Hibernia’, de sua majestade, vinte e duas léguas, oeste do Tejo, 1 de Dezembro de 1807, - Senhor. – Em um despacho datado de 22 de Novembro, com um post-scriptum de 26, vos mandei para informação dos lords comissários do almirantado as provas contidas em vários documentos de se achar o governo português tão aterrado pelas armas francesas, que chegou a aquiescer a certos peditórios da França contra a Grã-Bretanha. A distribuição das forças portuguesas estava feita somente, pelas costas do mar, ao mesmo tempo que a parte de terra ficou inteiramente sem guarda. Os vassalos britânicos de todas as classes foram detidos, e portanto veio a ser absolutamente necessário informar o governo português de que estava chegado o caso em que, em obediência às minhas instruções devia declarar o Tejo em estado de bloqueio; e havendo lord Strangford concordado comigo em que as hostilidades se deviam repelir com hostilidades, comecei o bloqueio, e as instruções que recebemos se puseram em prática em toda a sua extensão, não perdendo nunca de vista a lembrança do primeiro objecto, adoptado pelo governo de sua majestade, de abrir um refugio ao chefe do governo português, ameaçado como ele estava por um braço poderoso e pela pestilente influencia do inimigo. Julguei que era do meu dever adoptar os meios que se nos franqueavam, para trabalhar em persuadir o príncipe regente de Portugal a tornar a considerar a sua decisão de unir ao continente da Europa, e a lembrar-se que tinha possessões no continente da América, que oferecessem uma ampla compensação por qualquer sacrifício que ele pudesse aqui fazer, e de que seria cortado pela natureza da guerra marítima, cujo fim se não poderia decidir pelas combinações das potências continentais da Europa.

      Com estas vistas, logo que lord Strangford recebeu o consentimento á proposição que tínhamos feito, de poder s. s.ª desembarcar e conferir com o príncipe regente, debaixo da bandeira parlamentaria, eu dei a s. s.ª a conduta e segurança necessárias em ordem a poder dar ao príncipe seguranças de que a sua palavra de honra como ministro plenipotenciário de el-rei, unido com um almirante britânico, não podia deixar de inspirar confiança, persuadindo a sua alteza real a lançar-se com a sua esquadra nos braços da Grã-Bretanha, descansando confiadamente em que el-rei disfarçaria um acto forçado de hostilidade aparente contra a sua bandeira e súbditos, e estabeleceria o governo de sua alteza real nos seus domínios ultramarinos, como tinha geralmente prometido. Agora tenho a cordial satisfação de vos anunciar, que as nossas esperanças e expectação se realizaram na sua maior extensão. Na manha de 29 a esquadra portuguesa, nomeada na lista junta, saiu do Tejo, com sua alteza real o príncipe do Brasil e toda a real família de Bragança a bordo, juntamente com muitos dos seus fiéis conselheiros e aderentes, assim como outras pessoas que seguiram a sua actual fortuna.

      Esta esquadra de oito naus de linha, quatro fragatas, dois brigues e uma escuna, com uma grande multidão de navios mercantes armados, se arranjaram debaixo da protecção da esquadra de sua majestade, que o fogo de uma salva reciproca de vinte e uma peças anunciou o amigável encontro destes, que no dia antecedente estavam em termos de hostilidade; a cena, infundi-o em todos os espectadores (excepto no exército francês, que estava sobre os outeiros), os mais vivos sentimentos de gratidão á providência, pois ainda existe um poder no mundo, que pode e deseja proteger os oprimidos. Tenho a honra de ser, etc. = G. Sidney Smith =.

       



         Lista da esquadra portuguesa, que saiu do Tejo a 29 de Novembro de 1807:

Naus
Principe Real - 84 peças
Rainha de Portugal - 74 peças
Conde D. Henrique - 74 peças
Medusa - 74 peças
Afonso de Albuquerque - 64 peças
D. João de Castro - 64 peças
Principe do Brasil - 74 peças
Martim de Freitas - 64 peças

Fragatas
Minerva - 44 peças
Golfinho - 34 peças
Urania - 32 peças
Outra cujo nome se ignora

Brigues
Voador - 22 peças
Vingança - 20 peças
Lebre - 22 peças

Escuna
Curiosa - 22 peças

O anúncio do bloqueio foi assim concebido:

        Pelo presente faço saber a quem convier, que sendo notório que os portos de Portugal se acham fechados á bandeira da Grã-Bretanha, e que o ministro plenipotenciário de sua majestade Britânica junto da corte de Lisboa deixou esta capital, e em conformidade das instruções recebidas pelo abaixo-assinado, vice-almirante do pavilhão azul, comandante em chefe, a embocadura do Tejo é declarado em estado rigoroso bloqueio. Pelo presente informo portanto o governo português, que foram expedidas as ordens para que esta medida seja estritamente executada enquanto durarem os objectos da actual desinteligência. Os cônsules dos estados neutros avisarão o seu governo em tempo oportuno de que o rio se acha bloqueado, e de que contra os navios que nele tentarem entrar se tomarão todas as medidas autorizadas pelas leis das nações e pelos respectivos tratados entre sua majestade Britânica e as potencias neutras.

       Dado a bordo da nau ‘Hibernia’, na altura do Tejo, ao 22 de Novembro de 1807. = (Assinado) = G. Sidney Smith.










Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.